O Poder Oculto das Estrelas da Internet: Como Influenciadores Transformam Eleições e Desafiam a Lei
por Matheus Fernandes e Leandro Nappi
Nos últimos anos, o marketing de influência emergiu como uma estratégia extremamente poderosa e relevante no cenário das campanhas eleitorais no Brasil. Em um mundo cada vez mais digital e conectado, o papel dos influenciadores digitais e das páginas de fofocas tornou-se significativo. Duas das principais empresas que atuam nesse cenário são a Play9, pertencente a Felipe Neto, e a Mynd, com a participação de Preta Gil. Neste artigo, aprofundaremos a análise do uso de influenciadores em campanhas eleitorais, explorando em detalhes o seu poder de convencimento, o crescimento das páginas de fofocas como disseminadoras de informações opinativas, a atuação das empresas de influenciadores e a legalidade dessa prática com base na Resolução do TSE, com destaque para a campanha de 2022 do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quem são os Influenciadores Digitais?
Com a proliferação da internet e das redes sociais, um fenômeno notável emergiu: o surgimento de indivíduos que, antes excluídos dos tradicionais meios de comunicação, agora têm a oportunidade de criar e compartilhar conteúdo online. Os influenciadores digitais, ou simplesmente "influencers," são essas figuras presentes em plataformas digitais e redes sociais que conquistaram grandes audiências, muitas vezes na casa dos milhões de seguidores, e exercem um notável poder de influência sobre elas.
A diversidade de influenciadores abrange uma variedade de segmentos, refletindo a ampla gama de interesses e nichos existentes. Esses influenciadores podem se destacar em áreas como moda, empreendedorismo, estética, humor, educação, finanças e muitos outros. No Brasil, um exemplo icônico é Carlinhos Maia.
Carlinhos Maia é uma das figuras mais proeminentes no cenário de influenciadores digitais. Inicialmente ganhando destaque em 2016, ele cativou a atenção do público ao compartilhar vídeos que narravam o cotidiano de sua vizinhança, localizada no interior de Alagoas. Gradualmente, Maia acumulou uma legião de seguidores, solidificando sua posição como um dos brasileiros mais seguidos no Instagram.
A Credibilidade dos Influenciadores Comuns
O fenômeno dos influenciadores digitais transformou a dinâmica das relações entre marcas e consumidores. Com o crescimento do Conteúdo Gerado pelo Usuário (UGC), indivíduos antes desconhecidos passaram a ocupar o centro das atenções e a interagir com grandes marcas estabelecidas.
O Poder de Convencimento dos Influenciadores
Os influenciadores digitais, devido a sua capacidade de alcançar grandes públicos e estabelecer vínculos significativos com seus seguidores, possuem um poder de convencimento ímpar. A credibilidade que essas personalidades da internet conquistam está fundamentada na autenticidade que transmitam. Os seguidores percebem-nos como indivíduos reais que compartilham suas experiências e opiniões de maneira genuína. Essa confiança estabelecida entre influenciador e seguidor, somada à criação de uma comunidade virtual, torna os seguidores mais propensos a ouvir e seguir as recomendações do influenciador. Isso gera uma influência profunda que se traduz em ações, voto ou apoio a uma causa ou candidato.
Considerando que os influenciadores compartilham suas visões, experiências vividas e seus estilos de vida com os seguidores, a mensagem “publicitária” parece, em sua grande maioria, mais confiável do que a publicidade tradicional, sendo o grande chamariz para que sejam utilizados como estratégia de marketing pelas marcas, propagando seu conteúdo com mais confiabilidade (COELHO et al, 2017). Os “influenciados”, ou seja, seus seguidores acabam consumindo de forma natural o que eles propagam pelo simples fato de pretenderem ser iguais a eles.
O Papel Crescente das Páginas de Fofocas como Veículos de Informação e Desinformação
As páginas de fofocas, inicialmente voltadas para o universo das celebridades, moda e comportamento, estão passando por uma evolução significativa. Elas se transformaram em veículos influentes para a disseminação de informações, muitas vezes opinativas e políticas. Com um número impressionante de seguidores, resultado do fascínio humano pela notícia e pelo entretenimento, essas páginas têm conquistado um alcance considerável. A habilidade de criar narrativas envolventes e opinativas se tornou uma característica distintiva, atraindo uma audiência ávida por análises e opiniões sobre eventos políticos. Hoje, elas desempenham um papel fundamental na paisagem midiática contemporânea, influenciando diretamente a opinião pública.
A Banca Digital da Mynd8: Uma Plataforma de Influência
Embora possam parecer concorrentes, os perfis "Fofoquei" (7,2 milhões de seguidores) e "Central da Fama" (5,2 milhões de seguidores), que operam no Instagram, são, na realidade, representados por uma única equipe comercial — a da Banca Digital, braço da empresa Mynd8 especializado em marketing de influência.
O alcance substancial desses perfis agenciados pela Banca Digital é notável, principalmente no que se refere a tópicos relacionados a celebridades e entretenimento. Entretanto, também possuem a capacidade de estimular debates sobre questões diversas.
O Estudo da Aos Fatos e Núcleo Jornalismo: Revelando Similaridades e Divergências
Um estudo realizado pela Aos Fatos e pelo Núcleo Jornalismo analisou todas as postagens feitas no Instagram por 24 perfis agenciados pela empresa durante a semana de 5 a 12 de junho de 2022. Os resultados revelaram que quase metade das postagens foram repetidas em mais de um perfil.
Das 1.472 postagens feitas no período, 694 (47,1%) se repetiram, abordando 194 pautas diferentes. Cada uma dessas pautas apareceu em média em três a quatro perfis distintos.
A Banca Digital e a desinformação
No intrigante caso da fictícia "Ratanabá," um perfil associado à Banca Digital emerge como o principal disseminador de informações falsas. No entanto, um político bolsonarista decidiu transformar essa situação em um terreno fértil para teorias conspiratórias.
"Imagine se eu lhe disser que esses elogios e ataques, destinados a prejudicar reputações, não se restringem a celebridades, influenciadores e participantes do BBB? Quer ver? Eu vou te mostrar", provocou o então deputado estadual cearense, atual deputado federa, André Fernandes (PL) em um vídeo publicado no Twitter em 18 de junho de 2023. Durante seis minutos e meio, ele tecia uma narrativa conspiratória desprovida de provas, vinculando a Banca Digital às supostas brigadas digitais da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
O parlamentar identificou postagens semelhantes entre as páginas, todas tratando do aumento de preços dos combustíveis pela Petrobras. De acordo com Fernandes, ao incluírem a foto do Ministro da Economia, Paulo Guedes, nas publicações, essas páginas estariam realizando um "ataque coordenado," insinuando que Guedes seria o responsável pelo reajuste, quando, na realidade, essa decisão é tomada por um conselho da estatal.
É crucial ressaltar que a falsa associação entre a Banca Digital e a CUT, assim como a sugestão de um ataque coordenado contra Guedes, são meras especulações, desprovidas de evidências concretas. Entretanto, o deputado Fernandes destaca um fato inegável: esses perfis estão envolvidos em discussões políticas e repetem postagens sobre essa temática.
A Política na Pauta das Páginas de Fofocas
Apesar de não serem estritamente dedicados à política, os perfis agenciados pela Banca Digital frequentemente abordam temas políticos e econômicos. Na semana analisada, eles fizeram 56 postagens sobre política, economia ou eleições, das quais 40 foram repetidas em múltiplos perfis. As discussões variam de questões gerais, como a inflação afetando os preços dos alimentos, até eventos específicos, como um supermercado cobrando por caixas de papelão.
Atuação das Empresas de Influenciadores
As empresas de influenciadores, como a Play9 e a Mynd8, desempenham um papel vital na estratégia de marketing de influência. Elas não só conectam marcas e influenciadores, mas também oferecem uma gama completa de serviços, que inclui a identificação de influenciadores relevantes, a negociação de contratos e o monitoramento dos resultados das campanhas. No contexto eleitoral, essas empresas desempenham um papel crítico na seleção e gestão de influenciadores envolvidos nas campanhas políticas, garantindo que suas ações estejam em conformidade com a legislação eleitoral e os princípios democráticos.
O Caso da Campanha de Lula em 2022
A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 é um exemplo notável de como os influenciadores digitais podem ser eficazes na amplificação das mensagens políticas. Nessa campanha, diversos influenciadores de diferentes áreas, como entretenimento, esportes e cultura, foram mobilizados para divulgar as propostas e ideais de Lula, visando especialmente o engajamento do público jovem. A presença destes influenciadores nas redes sociais não apenas aumentou a visibilidade da campanha, mas também contribuiu significativamente para atrair públicos diversos, dada a sua popularidade e carisma nas redes sociais.
Fonte: Valor/Globo
A Legalidade do Uso de Influenciadores em Campanhas Eleitorais
A legalidade do uso de influenciadores em campanhas eleitorais é uma questão complexa. A Resolução 23.610/19 do Tribunal Superior Eleitoral estabelece regras claras quanto à propaganda eleitoral, suas restrições e permissões. Segundo essa resolução, é proibida a veiculação de material de propaganda eleitoral em empresas, incluindo plataformas digitais. Adicionalmente, a resolução proíbe a contratação de pessoas para realizar marketing de influência eleitoral. Além disso, o TSE concluiu que está vedada a contratação de influenciadores para a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet. A decisão está apoiada no artigo 57-C da Lei nº 9.504/1997, a Lei das Eleições. No entanto, a resolução não impede que influenciadores digitais expressem suas opiniões políticas pessoais em suas redes sociais, respeitando assim a sua liberdade de expressão.
A distinção crucial entre opinião pessoal e propaganda eleitoral é central para compreender a legalidade do uso de influenciadores em campanhas eleitorais. Influenciadores têm o direito de participar do debate político e expressar suas opiniões, tal como qualquer cidadão. No entanto, quando são contratados por candidatos ou partidos políticos para promover uma mensagem de campanha específica, isso é considerado propaganda eleitoral e, portanto, está sujeito às restrições da legislação eleitoral.
O futuro da política e dos influenciadores
O uso de influenciadores em campanhas eleitorais é uma tendência que continua a crescer na política brasileira. Empresas de influenciadores desempenham um papel crucial na seleção e gestão de influenciadores nas campanhas, enquanto os influenciadores digitais têm a capacidade de amplificar as mensagens políticas de maneira eficaz.
No entanto, é imperativo que essa prática seja conduzida de maneira ética e transparente, respeitando rigorosamente as regulamentações eleitorais. A legalidade do uso de influenciadores é uma questão sensível, com uma linha tênue entre a liberdade de expressão e a propaganda eleitoral. Portanto, a fiscalização rigorosa é necessária para preservar a integridade do processo democrático e o cumprimento das leis eleitorais no Brasil. O caso da campanha de Lula em 2022 demonstra como essa estratégia pode ser eficaz, mas também enfatiza a importância de regulamentações claras e do respeito às leis eleitorais para garantir eleições justas e transparentes.
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